Sindrome de Frégoli (historias de terror)

 _ Sr.Anderson, você foi acusado de homicídio qualificado da sua esposa no dia 23 de Outubro de 2020. 

O que tem a dizer em sua defesa? - Indaga o Juiz alto de cabelos grisalhos, olhos fundos, roupas pretas e óculos na ponta do nariz,  para o homem franzino sentado a sua frente.

_Eu a matei meritíssimo. -Iniciou o homem relativamente jovem, porém envelhecido de cansaço e poucas noites de sono Mas como eu falei no meu depoimento, ela não era a minha esposa. Ela era algum ser que estava no corpo dela ou algo do tipo.

Percebi isso à alguns meses e fui vendo os comportamentos estranhos dela ao longo do tempo.

_E quais comportamentos eram esses Sr.Anderson?- Questionou novamente o juiz, agora com o semblante sério.

_Então, sua aparência mudou muito, percebi que ela passou a dormi menos e seus olhos ficaram bem mais fundos. Com o tempo percebi inclusive que dava pra ver uma borda preta bem fina em seus olhos, como se ela usasse uma mascara.

 Após comentar sobre isso com ela, ela começou a tentar me envenenar. Ela inicialmente dizia que eram remédios pra me ajudar a pensar etc. Mas eu percebi que esses remédios me deixavam grogues. e faziam eu não ver mais esses erros em sua aparência. 

Quando percebi isso parei imediatamente de tomar os remédios, e os escondia para ela não ver. Mas parece que ela estava me vigiando e acabou descobrindo onde eu escondia. Ela disse que não me daria mais os remédios e achei que estava tudo bem. Até que um dia peguei ela tentando diluir um comprimido no meu suco. 

Ela negou, mas eu tenho certeza que vi isso! Tivemos uma briga feia- Exclamou o homem se agitando. -Depois dessa noite ela passou a dormir no quarto dos fundos.

Peguei outras vezes ela tentando envenenar minha comida e por isso passei a tomar mais cuidado e a não comer mais em casa. 

 Ela para tentar me enganar me levou a um suposto médico que disse que eu precisava de ajuda séria, mas eu sei que ela o havia pago, pois estava claro que ele estava mentindo pra mim! 

 Tivemos outra briga feia chegando em casa e depois disso ela não deixou mais eu ter mais contato com nossos filhos. 

  Tenho certeza que essa era o objetivo principal daquela impostora! Ela queria roubar meus filhos e fazer sabe-se lá o que.

Ela começou a manipular os meninos fazendo com que eles se afastassem de mim, dizendo que eu estava doente ou algo assim. Me xingava ou iniciava brigas sem que eles vissem pra logo em seguida começar a chorar na frente deles.

Tentei falar com a família dela mas eles não me deram ouvidos, parece que de alguma forma eles estavam envolvidos nisso.

Ela estava fazendo da minha vida um inferno e eu tinha que descobrir quem ela era. E por isso entrei em seu quarto um dia que ela não estava, e vi que ela havia colocado trancas dentro do quarto, provavelmente para que eu não visse o que ela faz de noite no quarto. 

Revistei suas coisas e encontrei vidros de Clozapina no meio de suas coisas. Quando pesquisei pra que eram esses remédios descobri que eram pra surtos psicoticos e esquizofrenia, ou seja. Essa mulher fugiu de um sanatório , matou minha esposa e estava se passando por ela para roubar nossos filhos.

  Eu não podia deixar isso acontecer!

Planejei como seria feito tudo,mandei as crianças para a casa dos avós durante um tempo e  escondi um gravador de audio na sala e deixei por varias noites. 

Me tranquei no quarto durante todos esses dias.

Ouvindo as gravações noturnas escutei o barulho da maçaneta e das trancas do quarto dela se abrindo, e logo em seguida barulhos de gritos e  pancadas nas paredes. Ela provavelmente estava revelando o monstro que ela realmente era.

 Então passada uma semana, esperei ela voltar do trabalho, e assim que ela entrou em casa a acertei com uma facada na barriga. Mas ela não morreu, é claro que não, ela era um monstro e tentou lutar, mas eu tinha me preparado e a acertei novamente até que ela parou de se mover. 

  Tentei retirar a mascara dela mas não consegui direito, ela costurou ela bem rente a pele e quando ia investigar o resto do corpo a policia chegou e me prendeu.

É só isso que eu sei, que ela é um monstro e se vocês examinarem o corpo dela vão poder ver! -finalizou o homem desesperado tentando ser compreendido.

_Sr.Anderson- iniciou o juiz- Temos diversas provas contra o senhor, como por exemplo um laudo psiquiatrico dizendo que o senhor tem uma doença chamada sindrome de Frégoli ou algo parecido e que os remédios para esquizofrenia no quarto de sua esposa eram seus, e ela estava tentando te dar eles e não te envenenar.

Quanto as gravações de audio que você mencionou não conseguimos encontrar nada em sua casa. E provavelmente o barulho das trancas e maçaneta eram na verdade da sua esposa se trancando no quarto pra fugir de você. 

Por isso estou determinando agora sua prisão no sanatório da cidade e a guarda de seus filhos para seus avós maternos.- Disse o juiz proferindo a sentença e retirando os óculos do rosto.

_Você não entende!- diz o homem enquanto olha para o juiz- Eles forjaram essas provas contra mim! Você tem que acreditar!- Diz o homem correndo em direção ao juiz.

Ao chegar bem perto da mesa, ele é contido por guardas e consegue ver melhor o rosto do Juiz, um homem corpulento, de cabelos grisalhos e bagunçados e olhos que sem os óculos parecem ainda mais fundos... Fundos que até parecem ter uma linha preta em baixo das pálpebras... 

Percebendo que estava encurralado ele tenta lutar contra os guardas, que conseguem o conter.

-Podem levar ele embora, o caso está encerrado. -Diz o juiz passando a mão rosto enrugado quase que como ajeitando a mascara após tanto tempo sentado, enquanto Anderson é levado aos berros para cumprir sua sentença



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